quarta-feira, 15 de julho de 2015

O dia que a passagem de ônibus reduziu em João Pessoa

Todo mês a passagem de ônibus aumentava, o salário aumentava, o feijão aumentava, era agosto de 1988, o 8º mês do ano que sofria com o 8º aumento da passagem. Os ônibus, não muito diferente de hoje, vivam lotados, a população já não aguentava mais a péssima qualidade dos ônibus e pagar caro por um serviço de transporte. 
Manifestantes depredaram 50 veículos. Foto: Jornal Correio da Paraíba, 19 de agosto de 1988
O povo então, protagonizado pelos estudantes, decidiu mobilizar-se. Foram 3 dias consecutivos de passeatas (16, 17 e 18) com mais de 4 mil pessoas na rua. A população resolveu depredar os ônibus nestes dias de manifestação, resultado: 50 ônibus foram quebrados e/ou incendiados e a passagem foi imediatamente reduzida. 

Manifestação dos estudantes e trabalhadores na Lagoa
A passagem foi diminuida após intervenção do Governo do Estado, sob a administração do município, que decretou estado de sítio na cidade pela grande revolta popular contra o aumento da tarifa de ônibus. A passagem reduzida, continuou congelada por Cr$ 40,00 (cruzados) até o final do ano de 1988 e o SETUSA foi criado pelo governo do Estado. O SETUSA funcionava com as linhas circulares 1001-Mandacaru/Shopping, 1500, 2300, 3200 e 5100, a 305-Mangabeira e 601-Bessa/Roger. O SETUSA que era uma empresa estatal, garantia Passe Livre para todos os estudantes que fardados, podiam entrar pela porta da frente, mas também tinha uma tarifa mais barata que as empresas de ônibus privadas. 

Manifestantes 
Esse benefício, fez com que os empresários de ônibus não gostassem da existência do SETUSA, pois estava concorrendo diretamente com as linhas das empresas privadas, pois as linhas circulares do SETUSA “entrava” em percursos semelhantes das operadoras privadas. […] a Transnacional teve perda de 30% dos passageiros nos últimos 9 meses e reduziu em 12% a sua frota de operação. Antes do Setusa, segundo Agnelo, a Transnacional, transportava 100 mil passageiros/dia, quantia que desceu para 70 mil/dia, atualmente. Até outubro do ano passado ele tinha 76 veículos em operação e, hoje, está apenas com 67. 

SETUSA - Foto: Acervo do Jornal "A União", digitalizada em 2010
Isso ocorreu porque o povo, que não é besta, se utilizou de um sistema de transpote coletivo mais econômico que era o SETUSA. Na época, que não existia terminais de integração, o SETUSA era uma alternativa para rodar por toda a cidade pagando uma única passagem. Antes das linhas circulares, que foram criados com o SETUSA, as pessoas só podiam chegar a determinados bairros pegando duas “conduções”. Então, o extenso percurso, a tarifa mais barata e o Passe Livre estudantil foram fatores determinantes para que as pessoas escolhessem a empresa estatal ao invés das empresas privadas. Porém, a empresa que foi criado no Governo de Tarcísio Burity, foi sucateada propositalmente no governo de Ronaldo Cunha Lima e desativada totalmente com a entrega das linhas para a Transnacional em 1996 no Governo do Estado de Zé Maranhão. As empresas de ônibus privadas tiveram um papel decisivo para o desaparecimento do SETUSA, afinal, os empresários não estavam gostando do SETUSA, porque estava dando diminuindo sua margem de lucro. O sucateamento do SETUSA não foi uma ação de descaso do governo. 

Em 1988, foi o único momento na história da cidade que a passagem de ônibus foi reduzida, após o quebra-quebra generalizado no centro da capital paraibana. Essa manifestação trouxes benefícios enormes, pois além de reduzir a passagem, criou o SETUSA que tinha o Passe Livre para todos os estudantes fardados e cobrava tarifas diferenciadas. 

Fonte: Levantepb.org

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